quarta-feira

Criatividade e a Lei Ficha Limpa

Se algum dia alguém lhe apresentar regras de como ser criativo, a melhor coisa que você pode fazer é escutar, educadamente, e depois esquecer tudo que lhe foi dito. Para ser criativo não existem regras, não existe um manual de instruções. Todavia, existem algumas condições fundamentais: você precisa ser excelente naquilo que faz. Se você quer ser criativo como músico, então você precisa ser um excelente músico; se você quer ser criativo como arquiteto, então você precisa ser um excelente arquiteto. E assim para todas as atividades. De acordo com Thomas Edson, o trabalho criativo é 1% inspiração e 99% transpiração e essa “transpiração” significa ler, dedicar-se, estudar, experimentar, ler mais, trabalhar com afinco na sua proposta. Outra condição é que, para haver uma proposta ou uma solução das mais criativas é preciso haver um problema. E esse problema, depois de exaustivamente estudado, dimensionado, discutido irá fornecer os subsídios necessários para a apresentação de uma solução criativa. E o esquema é assim, primeiro o problema, depois a solução.
Mas há casos em que o inverso pode ocorrer, embora muito raramente, mas acontece, ou seja, de você obter algo e ter que buscar uma utilidade para aquilo. Vocês já ouviram falar na Minesota Mercantil e Manufatureira? Não? E se eu disser 3M? Aí as coisas clareiam, né mesmo? Pois bem, na 3M, coisa de uns 30 anos atrás, talvez um pouco menos, um grupo de pesquisadores estava trabalhando em um super adesivo. Depois de muito trabalho, muito dinheiro o resultado foi um fracasso. O adesivo que eles conseguiram fabricar não era o que se esperava. Aí a empresa abriu uma espécie de concurso, onde o participante deveria encontrar uma utilidade para o adesivo. E foi assim que surgiu o Post It, aquele papel de recado com um camada de cola na borda. Sabem do que estou falando né? Pois é, foi, exatamente assim, que ele foi inventado.
Aí vocês me perguntam: onde eu quero chegar com essa conversa? Vamos lá. No Brasil havia, ou há – isso ainda não está muito definido – um problemão: como impedir de tomar posse aqueles políticos inescrupulosos, que se envolveram em falcatruas e que tenham sido condenados? Não é preciso ser um especialista para apresentar uma solução para o problema, basta criar uma lei e fazê-la cumprir. E foi o que fizeram, criaram a tal Lei da Ficha Limpa. Ao invés de solucionar um problema, a tal lei acabou por criar outro: ela vale para as eleições de 2010? Ela é constitucional? Agora acabo de ler no UOL (23/03/2011) que o Supremo Tribunal Federal votou contra a aplicação da lei nas eleições de 2010. Isso quer dizer que aqueles que foram impedidos de tomar posse entrarão com ação requerendo o cargo para o qual foram eleitos. E como fica a situação daqueles que foram empossados no lugar dos, então, condenados pela Lei da Ficha Limpa? De forma que criaram uma lei para solucionar o problema crônico, diga-se de passagem, de impedir vagabundos de ocuparem cadeiras no parlamento e outros cargos eletivos e a lei mostrou-se, pelo menos por enquanto, inaplicável. O que fazer com a lei? Supondo que existam milhares de folhas de papel com a Lei da Ficha Limpa impressa, que tal se fizessem canudos com papel e enfiassem no rabo desses políticos criminosos que ninguém consegue punir? Certamente irá sobrar grande quantidade de papel para fazer mais canudos e aí eu lanço o desafio: no rabo de quem esses canudos poderão ser enfiados?

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