quarta-feira

Desejo

Salve salve torcida alviverde de Parque Antárctica.

Gente boa é o seguinte.

As revistas de maior circulação do país reservam uma ou duas páginas onde são publicadas frases. São frases de impacto, seja pelo humor ácido, pela polêmica, pelo significado filosófico ou científico, pelo teor político, pela gafe; frases reveladoras, frases pronunciadas em hora inoportuna e local inapropriado, enfim, frases para todo gosto.

Frase das mais interessantes não li em lugar algum, eu ouvi deum professor à época em que eu era acadêmico do Curso de História. Disse o mestre: “Quanto mais desejamos ter as coisas, mais pobres nos tornamos”. Pois bem. Esta frase, sob meu modesto ponto de vista desnuda um dos fundamentos da lógica de funcionamento do modo de produção capitalista. Eu explico: algo, absolutamente, fundamental no capitalismo é o consumo, quanto mais consumo mais dinheiro entra no caixa, etc, etc, etc. E que outra maneira de se manter o consumo elevado, senão despertando no indivíduo, continuamente, o desejo de consumir, criando nele a necessidade de comprar? E nesse sentido, os apelos vêm de toda direção: televisão, rádio, jornais, revistas, internet, out doors, in doors, tablets, celular, etc.

Até aqui o capitalismo fez o dever de casa. Daqui pra frente, os meios que o cidadão irá usar para adquirir a condição de poder comprar o que deseja, é uma questão pessoal. Existem pessoas que trabalham e com o fruto do seu labor compram o que podem, e tem gente que, mesmo trabalhando e recebendo honestamente, compra além da capacidade de pagamento e se afunda em dívidas. E tem gente que opta pelo caminho mais fácil o qual, na maioria das vezes, não é o mais correto: roubam, traficam, chantageiam, praticam o estelionato, etc. E tem gente que, desavergonhadamente, descaradamente, despudoradamente usam o trabalho como fachada (na maioria das vezes em um cargo público) e praticam a corrupção, corrompem e se deixam corromper, subornam, pagam propina, recebem para facilitar o andamento de processos licitatórios e por aí vai.

Diz a lenda urbana que tem gente, por exemplo, que quando atuava na iniciativa privada, a única coisa que sabia fazer, e bem, era dar o cano nas pessoas, no comércio, emitir cheque sem fundo e tal. Foi só ocupar cargo público e o cidadão tem fazenda cheia de gado, chácara, mansão, etc. Outro vivia na penúria e, não faz muito tempo, andava desesperado à procura de quem lhe emprestasse dinheiro à juro. Foi só ocupar cargo público e a situação teve sensível alteração. Hoje ele tem chácara na zona rural de uma cidade vizinha, com asfalto na porta, imóveis e só veículos 0km, em não mais que dois anos, passaram 8 no nome dele.

Muitos irão culpar o capitalismo por aquelas práticas criminosas e eu não quero, aqui, defender ou desmerecer este ou aquele modo de produção, mas, uma coisa é certa, o que faz com que as coisas sejam assim ou assado, não são os sistemas econômicos ou forças do além. As coisas são como são, única e exclusivamente, pela ação do animal “homem”. Ter ou não bom caráter não é uma questão de ser capitalista, socialista ou o caramba. Bom caráter é uma questão íntima, pessoal. Saber discernir entre o correto e incorreto, justo e injusto, honesto e desonesto, não é uma virtude que que se compra com propina, é algo que se aprende com os exemplos.

Eu tenho meus exemplos, e nenhum deles consta em denúncias de práticas criminosas, nenhum deles foi ou é acusado de corrupção.

Se em alguma oportunidade eu fosse solicitado a colaborar com alguma revista, citando alguma frase para ser publicada, eu diria: “Quanto mais eu desejo ver os corruptos na cadeia, mais corruptos aparecem”.

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